sexta-feira, 12 de junho de 2009

trechos infantis de Monteiro Lobato
O cavalo e o burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado! gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:

— Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.

O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada.

— Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?

O burro gemeu:

— Egoísta, Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.


Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.

O Saci


O saci é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte: azeda o leite, quebra pontas das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.

Jeca Tatu

jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de vários filhinhos pálidos e tristes.
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atrás da casa. Perto corria um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.
Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis, nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.
Todos que passavam por ali, murmuravam:
- Que grandessíssimo preguiçoso!

Literatura Infantil:

1920 - A menina do narizinho arrebitado
1921 - Fábulas de Narizinho 1921
- Narizinho arrebitado 1921
- O Saci 1922
- O marquês de Rabicó1922 - Fábulas 1924
- A caçada da onça 1924
- Jeca Tatuzinho 1924
- O noivado de Narizinho 1927
- As aventuras de Hans Staden 1928
- Aventuras do príncipe 1928
- O Gato Félix 1928
- A cara de coruja 1929
- O irmão de Pinóquio1929
- O circo de escavalinho 1930
- Peter Pan 1930
- A pena de papagaio 1931
- Reinações de Narizinho 1931
- O pó de pirlimpimpim 1932
- Viagem ao céu 1933
- Caçadas de Pedrinho 1933 - Novas reinações de Narizinho 1933
- História do mundo para as crianças 1934
- Emília no país da gramática 1935
- Aritmética da Emília 1935
- Geografia de Dona Benta 1935
- História das invenções 1936 - Dom Quixote das crianças 1936
- Memórias da Emília 1937
- Serões de Dona Benta 1937
- O poço do Visconde 1937
- Histórias de Tia Nastácia 1938
- O museu da Emília 1939
- O Picapau Amarelo 1939
- O minotauro 1941 - A reforma da natureza 1942
- A chave do tamanho 1944
- Os doze trabalhos de Hércules 1947

Nenhum comentário:

Postar um comentário